sexta-feira, 28 de junho de 2013







Poder das palavras

Palavras
São armas
Poderosas!
Quando usadas
Corretamente,
Encantam e
Brilham
Mas, quando usadas
Por pessoa ignóbil
No ideal de prejudicar,
transformam-se
em navalhas
Que cortam a carne profundamente!
Em espadas
Que perfuram!
E, assim, matam a alma
Lentamente,
Até o seu último
Gozo de vida.
Perecendo a alma vazia!
A mesma palavra, porém,
Possui o milagre
De restaurar
Os ferimentos
E, milagrosamente,
Ressuscitar
A alma daquele
Corpo vagante
Que perecia em si!
Ludiro

 

Ensinar é um exercício

de imortalidade. 

De alguma forma

continuamos a viver

naqueles cujos olhos

aprenderam a ver o mundo

pela magia da nossa palavra. 

O professor, assim, não morre 

jamais... 
Rubem Alves


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O Homem que Lê ´

Eu lia há muito.
Desde que esta tarde
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde... em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.

E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Tradução de Maria João Costa Pereira